Cais do Ginjal degradado vai ter nova vida em 2012

12-01-2010 23:05

A degradação acumulada ao longo dos últimos anos pelo histórico cais do Ginjal, em Cacilhas, Almada, lançou esta zona à beira do Tejo, com uma singular vista sobre Lisboa, num cenário desolador. Aos tempos áureos das décadas de 50 e 60, que traduzia o êxito da pesca portuguesa, sucedeu-se o abandono dos edifícios a partir dos anos 80, ficando vulneráveis ao vandalismo. A autarquia garante haver perspectivas de mudança de sectores públicos e privados.

A Câmara de Almada tem em carteira um plano de requalificação já aprovado pelo Quadro de Referência Estratégico Nacional, para concluir até 2012, numa altura em que um grupo de promoção imobiliária da Madeira - Avelino Farinha e Agrela - assumiu publicamente o seu interesse no local, ao comprar um edifício à Galp Energia, por 2,3 milhões de euros.

Já há dois anos que esta empresa vem adquirindo terrenos entre o elevador panorâmico da Boca do Vento e Cacilhas. Estes promotores admitem ainda requalificar, no prazo limite de dois anos, o local onde permanecem os dois restaurantes do Ginjal - Ponto Final e Atira-te ao Rio - devido à importância turística que representam. No primeiro andar dos estabelecimentos tenciona criar um núcleo de indústrias criativas para "inventar" novas áreas económicas.

Segundo a autarquia, o Plano de Pormenor ainda está a ser elaborado, admitindo dar prioridade à criação de novas valências dos antigos edifícios que outrora albergaram unidades fabris de transformação de peixe, oficinas navais e produção de gelo.

"A ideia é tirar partido da vista sobre o Tejo", diz o vereador António Matos, após a assinatura de um protocolo entre a câmara e a Tejal, empresa proprietária da maioria dos imóveis, revelando estarem na calha vários investimentos em habitação, hotelaria, comércio e outros equipamentos.

O plano autárquico inclui projectos que defendem a construção de pracetas interiores destinadas a espaços de lazer, além de ligações pedonais e meios mecânicos entre o Ginjal e a própria arriba, cuja consolidação será uma das primeiras intervenções.

Sobre futuros investimentos, o vereador explica estar em causa um espaço totalmente privado e que à câmara "só compete dizer o que se pode e deve fazer, cabendo ao promotor realizar as obras". Lembra que na década de 90 esteve iminente o avanço deste processo e foi até possível reunir os quatro proprietários de 80% do património. Mas os parceiros concluíram não ser rentável o investimento e tudo voltou à estaca zero.

Joaquim Piló regressou com o DN ao cais do Ginjal para recordar os 11 anos que ali trabalhou na pesca do bacalhau. "É uma tristeza ver ao que isto chegou. Parece mentira", frisou, enquanto do alto de um pontão vê a degradação das antigas fábricas que davam trabalho a milhares de colegas. "Lisboa tinha muitos navios de pesca do bacalhau. Só a Sociedade de Armadores da Pesca tinha oito. Isto tinha uma vida espectacular e até custa vir aqui hoje assistir a isto", refere, sustentando que o estado desolador do Ginjal "espelha a perda da força de Portugal ao nível da pesca internacional".

Fonte: Diário de Notícias

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